Construir Notícias 13579

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Edição 142 4w4o3n

A fala do mestre 1b5a2l

A sociologia das coisas e o uso do celular nas escolas: a dependência emocional e as relações sociais 5u2z5u

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Rosangela Nieto de Albuquerque

Irina Strelnikova / stock.adobe.com

A sociologia das coisas é um campo de estudo que busca compreender como os objetos materiais influenciam e são influenciados pelas relações sociais e nos oferece um arcabouço teórico valioso para analisar o uso do celular nas escolas. Em vez de simplesmente ver o celular como uma ferramenta neutra, essa perspectiva nos convida a explorar como ele se torna um ator social, moldando interações, identidades e práticas dentro e fora do ambiente escolar (Latour, 2005).

A sociologia das coisas nos oferece uma perspectiva preciosa para compreender o impacto do objeto celular na vida das pessoas, como ele se tornou uma bengala emocional nas diversas faixas etárias e como, nos jovens/adolescentes, a dependência se apresenta significativa. Afastar-se do celular, muitas vezes, torna-se um sofrimento, e é impossível vivenciar o distanciamento do objeto, até mesmo no período escolar; assim, é preciso compreender como um objeto faz parte da vida do sujeito permitindo-nos ir além de uma visão simplista e explorar as complexas relações entre tecnologia, sociedade e educação (Verbeek, 2005). Como construímos uma relação de dependência com um objeto (celular)? A relação com as coisas (objetos) se tornaram uma dependência emocional? Esta dependência é mais comum nos jovens/adolescentes?

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[…] o celular, ferramenta onipresente na vida dos jovens, emerge como um potencial aliado, mas também como um fator de risco para a dependência emocional.

A adolescência é uma fase de intensas transformações, marcada pela busca de identidade, necessidade de aceitação e desenvolvimento de habilidades sociais. Nesse contexto, o celular, ferramenta onipresente na vida dos jovens, emerge como um potencial aliado, mas também como um fator de risco para a dependência emocional. Apesar de ser um objeto (materialidade), ele propõe uma relação de mecanismos psicológicos em vários âmbitos.

A materialidade do celular e suas implicações sociais 3b5928

O celular, com sua portabilidade, conectividade e multifuncionalidade, possui uma materialidade única que o distingue de outros objetos. Sua capacidade de conectar instantaneamente indivíduos, armazenar informações e mediar interações sociais o torna um objeto carregado de significado e poder. Nas escolas, essa materialidade se manifesta de diversas formas:

• Ferramenta de comunicação 1j1z36

O celular permite a comunicação instantânea entre alunos, professores e pais, facilitando a troca de informações, a organização de atividades e o e individualizado.

• Recurso de aprendizado 2nt3k

Aplicativos educacionais, vídeos, artigos e outras fontes de informação tornam o celular um potencial aliado no processo de ensino-aprendizagem.

• Espaço de socialização 9175e

Redes sociais e aplicativos de mensagens transformam o celular em um espaço de socialização, onde os alunos interagem, compartilham experiências e constroem identidades.

• Fonte de distração 5t2q7

Notificações, jogos e redes sociais podem desviar a atenção dos alunos das atividades em sala de aula, prejudicando a concentração e o desempenho acadêmico.

• Símbolo de status y3o57

O modelo e a marca do celular podem se tornar símbolos de status entre os alunos, influenciando as relações sociais e a construção de identidades.

Assim, é necessário refletirmos sobre as implicações do uso do celular na escola acerca da aprendizagem e nas relações sociais; os impactos que inferem nos sujeitos aprendentes; os desafios e as oportunidades; e a proibição através da Lei nº 15.100/2025.

O celular como ator social e suas implicações nas relações escolares 2o6mh

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Ao reconhecer o celular como um ator social, a sociologia das coisas nos permite analisar como ele influencia e é influenciado pelas relações sociais dentro da escola. Essa perspectiva nos leva a considerar (Appadurai, 1986):

O papel do celular na construção de identidades 2ut72

O celular se torna um espaço onde os alunos expressam suas identidades, compartilham seus interesses e se conectam com grupos de afinidade.

O impacto do celular nas interações sociais 2l4i2d

O celular pode tanto facilitar quanto dificultar as interações face a face, influenciando a forma como os alunos se relacionam entre si e com os professores.

A influência do celular nas práticas pedagógicas 1s4652

O celular pode ser integrado às práticas pedagógicas de diversas formas, desde a pesquisa e a colaboração até a criação de conteúdo e a avaliação.

As relações de poder mediadas pelo celular 3s63j

O o e o uso do celular podem gerar desigualdades entre os alunos, influenciando as relações de poder dentro da escola.

O celular e a cultura escolar 234u4

O celular se torna um elemento da cultura escolar, influenciando as normas, os valores e as práticas dentro da instituição.

Desafios e oportunidades para o uso do celular nas escolas 213i68

A sociologia das coisas nos ajuda a identificar tanto os desafios quanto as oportunidades que o uso do celular apresenta para as escolas (Turkle, 2011).

Desafios 1z3629

Distração, cyberbullying, desigualdade de o, impacto na saúde mental e no desenvolvimento social.

Oportunidades 6h36m

Ferramenta de aprendizado, comunicação e colaboração, ibilidade e inclusão, preparação para o futuro digital.

O isolamento virtual pode agravar a solidão e prejudicar o desenvolvimento de
habilidades sociais essenciais para a construção de relacionamentos saudáveis.

O celular como refúgio e válvula de escape emocional 3os24

Busca por validação e aceitação 3h5c1a

As redes sociais oferecem um palco virtual onde os adolescentes buscam validação através de curtidas, comentários e seguidores. Essa busca incessante por aprovação pode levar à dependência emocional, na qual a autoestima e o bem-estar estão atrelados ao online.

A comparação constante com as vidas “perfeitas” exibidas nas redes sociais pode gerar sentimentos de inadequação, ansiedade e depressão.

Fuga da realidade e isolamento social g4h4u

O celular pode se tornar um refúgio para adolescentes que enfrentam dificuldades emocionais, como bullying, problemas familiares ou baixa autoestima.

O isolamento virtual pode agravar a solidão e prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais essenciais para a construção de relacionamentos saudáveis.

Medo de perder algo (Fomo) 3266x

A constante conectividade e o fluxo interminável de informações nas redes sociais podem gerar o medo de perder algo importante (Fomo – Fear of Missing Out).

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Esse medo pode levar à compulsão por verificar o celular constantemente, prejudicando o sono, a concentração e o bem-estar emocional.

Mecanismos psicológicos da dependência emocional 5v594s

Reforço positivo intermitente n5s1t

As notificações, as curtidas e os comentários nas redes sociais funcionam como reforços positivos intermitentes, liberando dopamina no cérebro e criando um ciclo de recompensa que leva à dependência.

A imprevisibilidade desses reforços torna o celular ainda mais viciante, pois os adolescentes nunca sabem quando receberão a próxima dose de aprovação virtual.

Necessidade de pertencimento 4w2y17

A adolescência é uma fase crucial para o desenvolvimento da identidade e a necessidade de pertencimento a um grupo.

O celular e as redes sociais oferecem um senso de comunidade virtual, em que os adolescentes podem se conectar com pessoas que compartilham seus interesses e valores.

Baixa autoestima e vulnerabilidade 346k28

Adolescentes com baixa autoestima e vulnerabilidade emocional são mais propensos a buscar validação e aceitação nas redes sociais, tornando-se mais suscetíveis à dependência emocional.

A exposição constante a conteúdos idealizados nas redes sociais pode agravar a baixa autoestima e gerar sentimentos de inadequação.

Impactos negativos da dependência emocional do celular q224i

Problemas de saúde mental 57274d

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A dependência emocional do celular está associada a um maior risco de ansiedade, depressão, insônia e outros problemas de saúde mental.

O uso excessivo de telas pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro adolescente e afetar o humor, o comportamento e a capacidade de regular as emoções.

Dificuldades nos relacionamentos interpessoais s6e20

O isolamento virtual e a falta de interação face a face podem prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais importantes, como a comunicação, a empatia e a resolução de conflitos.

A dependência emocional do celular pode levar a conflitos familiares e dificuldades em construir relacionamentos saudáveis.

Baixo desempenho escolar 654369

A distração constante causada pelo celular pode prejudicar a concentração, a memória e o desempenho acadêmico dos adolescentes.

O uso excessivo de telas pode levar à procrastinação, à falta de motivação e ao baixo rendimento escolar.

Nesse contexto, foi necessária a promulgação da Lei nº 15.100/2025, que foi motivada por diversos fatores, incluindo:

• Distração e impacto no aprendizado k872

Estudos demonstraram que o uso excessivo de celulares em sala de aula pode prejudicar a concentração, o desempenho acadêmico e a interação entre alunos e professores.

• Cyberbullying e segurança online 4c3r5j

A crescente incidência de cyberbullying e outros problemas relacionados ao uso inadequado da Internet levou à necessidade de regulamentação.

• Saúde mental e bem-estar 251b

A preocupação com os efeitos negativos do uso excessivo de telas na saúde mental e no desenvolvimento socioemocional dos jovens também influenciou a criação da lei.

• Tendências internacionais 173u12

Diversos países ao redor do mundo já implementaram medidas para regulamentar o uso de celulares em escolas, o que serviu de referência para a legislação brasileira.

Principais dispositivos da Lei nº 15.100/2025 211b5g

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A Lei nº 15.100/2025 estabelece diretrizes claras para o uso de celulares em escolas, incluindo:

• Proibição do uso em sala de aula 6r1j2d

A lei proíbe o uso de celulares durante as aulas, exceto em casos de necessidade justificada e com autorização do professor.

• Restrição durante intervalos e recreios 4c5zn

O uso de celulares também é durante os intervalos e recreios, com o objetivo de promover a interação social entre os alunos.

• Exceções para fins pedagógicos 5d5hs

A lei prevê exceções para o uso de celulares em atividades pedagógicas específicas, desde que autorizado pelo professor e supervisionado pela escola.

• Diretrizes para o uso seguro e responsável 73b1n

A lei estabelece diretrizes para o uso seguro e responsável da Internet e das redes sociais, com o objetivo de prevenir o cyberbullying e outros problemas.

• Responsabilidades das escolas e dos pais 3a602a

A lei define as responsabilidades das escolas e dos pais na implementação e no cumprimento das diretrizes estabelecidas.

Considerações finais 391r1u

A sociologia das coisas nos ajuda a compreender o impacto do celular em nossa vida, acerca de como essa tecnologia molda nossas relações sociais e nossa cultura. Ao adotarmos uma perspectiva crítica e reflexiva, podemos buscar um uso mais consciente e responsável do celular, maximizando seus benefícios e minimizando seus riscos, principalmente entre os jovens.

O uso de celular na adolescência é um desafio, pois oferece oportunidades de conexão e aprendizado, mas também representa um risco para a dependência emocional. É fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de alerta e trabalhem em conjunto para promover um uso saudável da tecnologia, priorizando o bem-estar emocional e o desenvolvimento integral dos jovens.

A Lei nº 15.100/2025 representa um o importante, um marco na legislação educacional brasileira, abordando a crescente preocupação com o uso indiscriminado de celulares por estudantes em escolas. A legislação busca equilibrar os benefícios potenciais da tecnologia com os desafios que ela impõe ao ambiente de aprendizado e ao desenvolvimento socioemocional dos jovens. No entanto, a implementação eficaz da lei exigirá um esforço conjunto de escolas, pais, alunos e autoridades governamentais.

 


Referências
APPADURAI, A. A vida social das coisas: commodities em perspectiva cultural. Cambridge University Press, 1986.
LATOUR, B. Remontando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Oxford University Press, 2005.
LEI nº 15.100/2025, de 13 de janeiro de 2025.
TURKLE, S. Sozinhos juntos: por que esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros. Livros Básicos, 2011.
VERBEEK, P. P. O que as coisas fazem: reflexões filosóficas sobre tecnologia, agência e design. Pennsylvania State University 1 Press, 2005.


Rosangela Nieto de Albuquerque é Ph.D. em Educação (Universidad Tres de Febrero), pós-doutoranda em Psicologia, Doutora em Psicologia Social, Mestre em Ciências da Linguagem, psicanalista clínica, neuropsicopedagoga, neuropsicóloga clínica, pedagoga, psicopedagoga clínica e institucional, professora universitária de cursos de graduação e pós-graduação, licenciada em Letras (Português/Espanhol), autora de projetos em Educação e da implantação de uma clínica-escola de Psicopedagogia Clínica como projeto social e autora e organizadora de treze livros nas áreas da Educação e da Psicologia.

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