Edição 142 4w4o3n
Professor Construir 4f2z52
Lei do celular na sala de aula 1m5s3j
49682j
Nildo Lage

kromkrathog / stock.adobe.com
Para um planeta subordinado às ferramentas digitais, ao se abordar o impedimento, em sala de aula, de um instrumento que se tornou essencial à vida do humano é impossível não acender debates entre prós e contras. Os impactos da restrição posicionaram os usuários nas extremidades da abstinência, ainda que o alvo do Ministério da Educação seja impedir agravos físicos, psicológicos e emocionais a crianças e adolescentes.
Todavia, foi necessário especialistas desfecharem os alertas: o uso excessivo das ferramentas tecnológicas ocasiona consequências como a das substâncias químicas. A dependência tecnológica, ao se manifestar, está em fase avançada porque o cérebro decreta gratificações, recompensas que são proporcionais ao grau de vinculação da mente com os dispositivos, pois o coeficiente de cobranças obedece ao nível do volume de liberação de dopamina — neurotransmissor alcunhado como substância química do prazer que atua no sistema nervoso central.
O excesso, ao atingir o nível de dependência, influencia desde o prazer, o humor até a motivação e, no processo educacional, afeta a aprendizagem, por bloquear a tomada de decisões. Os efeitos são precisos, cingem o eu, influenciam nas relações interpessoais, acendem conflitos familiares, contrafazem o desenvolvimento escolar e, quando alcança o psicológico, pode levar à fobia social.
Nesse estágio, a necessidade de se conectar é tão intensa que o acoplamento para atender a uma crise de abstinência proporciona deleite. O disparo é certeiro! Ao ser acionado o gatilho, o alvo é alcançado antecipadamente. O fulgor da tela ante os olhos do dependente tem o impacto de um poderoso tranquilizante: proporciona uma leveza que só a paz, que alicia a felicidade, é capaz de harmonizar, por se tornar refúgio, um terceiro mundo, onde o usuário encontra acolhimento, compartilha emoções, sentimentos e dispersa exultação, jamais encontrados em outro ambiente.
Esse estágio é o instante em que a conexão com os dispositivos aborda tanta intimidade que a “upagem” sobrevém de forma dessimétrica, onde mente e universo digital se fundem para que biológico e eletrônico transcendam o bioeletrônico, para que as reações eufóricas ou depressivas ocorram, como nos dependentes de jogos eletrônicos, a exemplo do Roblox, que, além de apresentar, em sua plataforma, jogos com conteúdos impróprios para crianças, estimula o uso de armas, incita a violência gráfica e instiga abusos físicos até mesmo em animais.
É surpreendente como os efeitos explodem na sala de aula em forma de bullying, porque os golpes adotados nos jogos são reportados no espaço escolar. Muitos adotam tais atitudes para desenvolverem estratégias nos jogos. Os impactos despertaram países como a Turquia, que baniu o jogo, porque as influências estimulam impulsos onde excitações e ausências satisfazem ou provocam reações que vão desde estresse, ansiedade, dificuldade de concentração, impulsos violentos até distúrbios que necessitam de tratamento, porque as reações são as mesmas das substâncias químicas: intolerância, alteração do humor, angústia, agressividade, tremores e crises emocionais.
Decorrências das restrições no espaço escolar 4q3c3f
Num país onde leis são aprovadas para acatar aspirações de grupos sem refletir nos impactos a um setor que forma para a vida, horizontes são limitados com perdas irrecuperáveis. Ao coibir ferramentas digitais num espaço que brada por evolução, cujas plataformas online são itinerários de ensino-aprendizagem, é preciso priorizar as metas da educação, considerando a liberdade do aluno para aprender com responsabilidade e consciência.
Só que, em plena era digital, o sistema acredita que, regressando ao analógico, para acionar válvulas e botões, conseguirá formar uma geração que não conhece outra realidade além da digital, porque a Lei nº 15.100/25 é clara: “É proibido aos alunos o uso de celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e privadas até mesmo no recreio e intervalos”.
Sendo assim, o que faremos com uma BNCC cujas metas delineiam o universo escolar acondicionado às ferramentas digitais? A proposta é fantástica: “[…] competências digitais para interagir de forma crítica, ética e criativa com as mídias”. Que mídias? Desconectado do planeta, girando manivelas, operando válvulas, o aluno compreenderá como utilizar as tecnologias digitais de forma ética, reflexiva e significativa?
Assim como as intenções do governo, a teia tecida pela BNCC é perfeita: escolas conectadas, Estratégias Brasileira de Educação Midiática, cursos para professores e gestores sobre Educação Digital! Para quê? Ah! Esboçar uma aprendizagem baseada nos gêneros digitais, ao ritmo do toc, toc, toc, no apoio de braço da carteira, onde o aluno do futuro libertará o pensamento crítico, devaneando estar ante uma tela touch screen, para se deleitar com conteúdos em blogs, tweets e vlogs; utilizando recursos como fanfics, para reescrever a história com final feliz; gifs, para expressar a alegria, em linhas e cores; e, por que não?, memes, para divertir, relaxar… na exploração dos conteúdos.
Desconectado do planeta, girando manivelas, operando válvulas, o aluno compreenderá
como utilizar as tecnologias digitais de forma ética, reflexiva e significativa?
Quando o sinal da razão desfecha, salienta-se uma realidade constrangedora, porque restringir as tecnologias na sala de aula é iniciar mais um capítulo da trama “De volta para o ado”. Tanto retrocesso porque o sistema se recusa a compreender que aplicativos educacionais, além de agenciar a aprendizagem digital, arremessa educador e educando a um universo de aventuras! Jogos? Sim! Jogos desenvolvem habilidades, e seus recursos virtuais rompem a monotonia das aulas.
Só que as cadências de desinformações desencarrilham contradições como a de que o uso excessivo do celular acarreta câncer no cérebro! Dependência sim, mas câncer? As ondas emitidas pelo celular não exercem influências sobre o biológico, a ponto de atentar com mutações o DNA, para gerar códigos e provocar a bifurcação celular, porque tais procedimentos sobrevêm por meio de substâncias químicas, e não de radiações procedentes de aparelhos eletrônicos.
Todavia, para os pais, a restrição foi um mal necessário, pois creem que a proibição foi o choque que o sistema necessitava para provocar um terremoto que despertasse a comunidade escolar para uma realidade que afastasse a educação da hibernação, e a situação abre um leque de oportunidades para discutir a importância das ferramentas digitais na sala de aula e analisar não apenas o celular do aluno, mas também o do educador, que, muitas vezes, abarrota a turma de conteúdos para ter tempo de navegar nas redes sociais.
De quem é a culpa da ansiedade, da depressão e das crises de agressividade provocadas pela abstinência,
acarretando o distanciamento dos membros da família no próprio lar?
Marco um do caos 4452j
Os pais! Porque o uso excessivo não é nas dependências da escola! Quem é responsável de o celular e outros dispositivos eletrônicos chegarem às mãos da criança? Os pais! Doaram tanto que investiram financeiramente! Quem permitiu que a dependência originada pelo uso descomedido provocasse redução do sono e desvio de atenção a ponto de cauterizar a mente e dificultar o desempenho escolar? Os pais, que não tiveram autoridade nem direcionamento para istrar o uso! De quem é a culpa da ansiedade, da depressão e das crises de agressividade provocadas pela abstinência, acarretando o distanciamento dos membros da família no próprio lar? Dos pais! De quem é a responsabilidade de resgatar a criança desse universo de desordens? Dos pais! Ou seja, é hora de a família dar um o rumo à escola para um diálogo com professores, especialistas e gestores, para debaterem problemas que deveriam ser resolvidos pelos pais, e estes determinam, com braço de ferro, que a escola decida.
Para quem não pisa o chão de uma sala de aula, é tudo perfeito, e quem se atreve a questionar: Qual é a parcela da família nesse processo? Apenas encaminhar o filho para a escola? Celular nos lares tornou-se membro da família, de tão íntimo supre deficiência de pai, mãe, irmãos, avós e até babás, porque abduz, sorvendo tudo, excepcionalmente a concentração, pois se deslumbram quando focam na tela e se desligam de todos à sua volta!
A ocorrência é que os pais, a pedra angular na formação do indivíduo, assim como os filhos, estão condicionados às telas, e a maioria facilita o processo de dependência, na qual muitos, quando são arrebatados, convertem-se em zumbis.
A vinculação preocupa porque o tratamento estabelece terapia cognitiva e comportamental para identificar os pensamentos induzidos, que despertam sentimentos adversos, que afetam psicológico e emocional a ponto de alterar o comportamento e necessitar de medicamentos para refrear as desordens.
Porque o uso sem domínio provoca no cérebro da criança em processo de avanço disfunções no procedimento de desenvolvimento e, se não for contido, pode apresentar problemas que vão desde a ansiedade à agressividade, porque os pais não têm como acompanhar o que am na rede.
Temos ciência de que proporcionar um clima de acolhimento, para interagir com os nossos filhos sem instrumentos eletrônicos, requer tempo e abarcamento. Muitas vezes, é preciso limitar espaço na agenda de trabalho, renunciar a momentos de lazer e até de descanso para atender aos gritos e alimentar os filhos de atenção e valores.
Todavia, esse sacrifício é o princípio do processo de desintoxicação, que, além de disciplinar pelo exemplo, fortalece o elo do envolvimento sentimental e emocional. Com regras e ações centradas no lúdico — que elevam a concentração nos trabalhos escolares, harmonizando uma infância sem armadilhas —, a formação de cidadãos conectados com a vida é promovida, descartando-se as artificialidades e preferindo-se interagir com as pessoas e a natureza, através de brincadeiras que interatuem com todos a sua volta, e não com avatares e inteligências artificiais.
É certo que o ponto em que estamos é alerta máximo para pais, sistema e escola despertarem para uma realidade de desvios e advertências, porque o celular é um mestre que prepara para o bem, pois informa, conecta; e para o mal, sexting!
Sexting? O que é isso? 393m1j
Um universo que alicia crianças e adolescentes, estabelecendo à família atenção e investigação! Porque a afinidade com o celular vai além da troca de mensagens, do jogo, dos vídeos ou de se divertir nas redes sociais… O celular é, verdadeiramente, um cúmplice que conduz ao mundo que proporciona prazer.
Prazer sim! E físico! Para muitos adolescentes, o despertar da sexualidade é prematuro e se encontra num espaço sem regras e limites, liberdade e respostas, porque, nesse universo ível a todos, ninguém se toca fisicamente, mas é o início de relações sexuais perigosas e acontece num chat, porque sexting é, exatamente, o exercício de expedir e receber conteúdos sexualmente explícito pelo celular, e, como a maioria dos pais não acompanha o que os filhos am nas redes, tais ações sobrevêm até entre crianças, ou seja, o risco do uso do celular por crianças e adolescentes é mais assustador em casa do que no espaço escolar.
E não há inocentes. Pais adotam essa distração peçonhenta para manterem os filhos entretidos por uma babá eletrônica que os arrebata para outros mundos. Só que a paz que o celular promove com aquela trégua é uma bomba-relógio, cujo tique-taque prenuncia que a explosão sobrevirá a qualquer instante, com retornos desastrosos.
Tanto que há casos tão críticos que o diagnóstico é análogo ao do autismo, porque as consequências do vício provocam sequelas físicas, como oculares, por causarem detrimentos nos músculos dos olhos, visão turva e esgotada, além de problemas mentais, que alteram o sono, provocam deficiências de atenção, dificuldades para interagir socialmente e até mudanças comportamentais, como irritabilidade.
Muitos não apreendem, não têm tempo para limitar o período de uso nem captam que agitação, dores de cabeça, mudança de humor, ansiedade, agressividade, desânimo, dificuldade de concentração são sintomas dos excessos, que atingiram o físico, o psicológico e o emocional.
O processo tem que ser lento, como o desmame, pois o cérebro está upado às telas, e o arrebate brusco pode induzir à depressão. Porque a mente de uma criança não é igual à de outra; assim como um organismo torna-se dependente ou não de determinadas substâncias químicas, de tal modo ocorre com a mente, estabelecendo que cada caso seja avaliado individualmente, e não determinar: basta e pronto!
O alerta maior ressoa no espaço familiar, porque a responsabilidade do desmame das telas é dos pais, não da escola. Mas como arrebatar os filhos dessa nave sem provocar danos maiores?
O processo tem que ser lento, como o desmame, pois o cérebro está upado às telas, e o arrebate brusco pode induzir à depressão.
Marco dois do caos 86l67
O governo! Este, simplesmente, assina e decreta: “Cumpra-se!”. No instante seguinte, recua, com ar de: “A minha missão foi cumprida com sucesso!”, assentando no colo de gestores e professores um problema que estabelece envolvimento da comunidade escolar e, excepcionalmente, do sistema, que não oferece e e aporte nem discute políticas que condicionem as ferramentas digitais às ações pedagógicas.
Por que o governo que sancionou a lei não faz uso da autonomia para bloquear plataformas que seduzem crianças e adolescentes através de conteúdos maléficos à formação do caráter e da personalidade? Por que não apoia as plataformas que oferecem conteúdos ricos, cujos benefícios do uso do celular são istrados por meio do controle do teor ado?
A ação foi política e, mesmo justificada por intenções humanas, intervirá no desempenho escolar, porque as medidas restritivas podem não atingir o efeito almejado, e o que estava ruim pode chegar ao péssimo. Quem fecha uma porta para impedir a entrada do mínimo tem que ter responsabilidade e competência para dilatar a fresta para proporcionar o máximo!
O que o governo vai fazer? Atuar com a mesma presteza com que sancionou a lei e estruturar as unidades de ensino para recolher milhares de aparelhos de celular e identificá-los individualmente ?Quais ferramentas serão disponibilizadas ao professor para promover a aplicação de conteúdos e harmonizar a compreensão discente?
Responsabilidade e comprometimento são regras para se compreender que educação é o retorno de ações e que as instituições de ensino anseiam respostas para que o procedimento de ensinar não sofra retrocessos; entre eles, quais processos serão implantados para que o uso pedagógico das novas tecnologias se tornem realidade? Como fica o professor, no corredor do travamento, que, mais uma vez, foi arremessado no anfiteatro sem formação?
Sejamos lógicos! Essa deliberação, inspirada nos países desenvolvidos, que se orgulham da educação que oferecem, a ponto de se tornarem referências mundiais, funcionará em um país que não aparelha as suas escolas para acompanharem as evoluções do mundo? O sistema tem ciência do que são aulas atrativas, istradas por professores valorizados financeira e humanamente?
A deficiência de conexão do sistema com as novas tecnologias posiciona a educação cada vez mais distante da realidade, refletindo o desinteresse do governo, que tem consciência de que a restrição do celular não será o desarmamento em massa! É mais interesse do sistema, que receia evoluir para não ser suplantado pelo aluno, para quem celular é a ferramenta de estudo que o mesmo não oferece.
O que fazer? 1b2k5i

stokkete / stock.adobe.com
A escola pode auxiliar? Muito! Se o celular e outros dispositivos eletrônicos formam o sistema solar do planeta de adolescentes, jovens e crianças, por que não os utilizar como parceiros da educação, para promover um aprendizado suficiente? É indiscutível! As influências que as tecnologias exercem no humano nenhum sistema arrebata, e, quando confrontamos com a relação dessas ferramentas com a geração que não tem noção de como é a vida sem as tecnologias, um acordo para mediar os conflitos no espaço escolar é primordial, porque os famélicos por mídias digitais não permitem a desconexão.
A lei proíbe, mas pode estabelecer regras de uso, porque é complexo aplicar atividades interativas para se discutir temas dos conteúdos sem uma ferramenta que conecta o aluno ao mundo, cuja intimidade com a tecnologia doutrina o professor para criar situações sem arrebatar o celular do seu poder.
O governo, ao sancionar a lei, pensou na saúde, e isso é louvável, porque o uso excessivo das telas provoca danos do neurológico ao psicológico, e estudos comprovam que a permanência do celular com o aluno na sala de aula provoca desvios, principalmente de foco, e tais distrações afetam o desempenho escolar.
Todavia, se for empregado pedagógica e corretamente, refletirá positivamente na aprendizagem, por atrair a atenção discente, além de estimular o raciocínio lógico. O celular e outros dispositivos aliciam o que o sistema prega e não consegue perpetrar: a independência no processo de crescimento humano, principalmente na pesquisa, que promove o encontro entre a busca e o saber, que o indivíduo ambiciona para desenvolver habilidades e competências.
A sentença precipitada preocupa, porque medidas têm que ser tomadas; dentre elas, o governo vai inserir tecnologias para suprir as proibições e impetrar os alvos da educação? Vai substituir carteira por mesa digital de tela multitoque, uma autêntica ampliação do tablet do aluno, que se converterá numa nave espacial que o manterá conectado ao planeta?
Se o sistema não tem norte, consulte o seu cliente sobre a importância do uso do celular em sala de aula, e este apresentará um projeto com justificas convincentes, roteiros, para relevar o uso: ar grupos de estudos no WhatsApp, videoaulas, notícias dos temas aplicados; afiançar a sua veracidade; ar páginas com conteúdo do ciclo-ano; e, por que não?, aprofundar os temas aplicados para expandir o conhecimento que o auxiliará no desenvolvimento escolar!
Faltou bom senso, porque, em todo processo de alterações de hábitos e até de superação de dependências, há resistência. Política de privação requer regras que estabeleçam a participação dos responsáveis na formação do indivíduo, e muitos pais terão dificuldades para impor sua autoridade, por necessitarem alterar a própria postura para serem exemplo e, assim, fixarem limites para refrear o excesso em casa.
A proibição total é mais um ato de insensatez do sistema, porque a interdição atentará bloqueios aos que não conseguem se desconectar subitamente. Em meio às ideias contraditórias, tempestades de questionamentos: como os pais se comunicarão com os filhos se sobrevier um imprevisto no percurso? Não usar o celular no espaço escolar é coerente, mas a interdição súbita ou mantê-lo desligado e distante do usuário é manter o aluno isolado da própria família no período em que permanecer no espaço escolar.
Qual responsável fica tranquilo enquanto o filho sai de casa e atravessa a cidade a caminho da escola sem contato com a família? Atraso ou acidente? Angústia! Doença ou um simples mal-estar? Preocupação! Se advier algo no trajeto, quem o alertará? O professor assumirá o papel de secretário nos intervalos? O governo implantará, nas escolas, um avançado sistema de rastreamento para encontrar os alunos num incidente fora da escola?
O embargo não pode ser determinante! O uso do celular no espaço escolar para fins que não sejam pedagógicos é uma coisa, conservar o aluno desconectado do mundo externo é outra completamente diferente, porque, para a escola, que sempre avançou na contramão da vida, esquivar-se das ferramentas digitais é uma maravilha, mas é preciso regras, porque usar tecnologias no processo escolar é formar para a vida. A restrição pode ter consequências de um corte súbito na cadeia alimentar de uma geração que nasceu e ensaiou os primeiros os iluminados pelos reflexos das telas.
O uso do celular no espaço escolar para fins que não sejam pedagógicos é uma coisa, conservar o aluno desconectado do mundo externo é outra completamente diferente.
É preciso ponderação para que a ação não ocasione novos retrocessos, porque a proibição total granjeou adeptos, mas pode provocar desordens nos resistentes. Regras para equilibrar o uso e o não uso podem ser o caminho para conduzir a mudança de hábito para que muitos, até em casa, possam conciliar momentos em família com interação pessoal.
Não adianta governo e sistema tentarem conter o uso do celular. Não conseguirão debelar o motim que se iniciará na família e se estenderá à escola. Faça o teste arremessando na sala de aula: “O que é o celular na sua vida?”.
Os “celulalógrafos” replicam automaticamente: Tudo! E não são necessários novos questionamentos, porque a tréplica é convincente: facilita a vida! É agenda que descomplica o dia a dia; entretenimento que deposita, na palma da mão, o filme que não se pode ver no cinema, as músicas e os clipes dos artistas preferidos, distribuídos, sequencialmente, em playlists esboçadas, exclusivamente, para agradar o usuário; comunicação que conecta com o banco; ferramenta que mantém atualizado, por expedir e receber correios eletrônicos; linha direta com os amigos e familiares; câmera fotográfica e filmadora que registra momentos íntimos; outdoor que expõe momentos de beleza, alegria, felicidade… As conquistas… De tão essencial, torna-se escudo, pois registra instantes indesejáveis, como flagrantes de desrespeito; sem contar que assentam, no mesmo lugar, todos os apps de compras e serviços!
Na verdade, celular é o melhor amigo! Diário secreto, que protege os segredos mais íntimos… Tanto que tão somente o usuário desbloqueia o o, para encontrar o melhor de si, por ser um universo de mistérios, que exibe para quem quer; e, não é preciso salientar, é onde se refugia da solidão de uma noite de insônia, por encontrar o acolhimento dos amigos ou entreter-se nos grupos de WhatsApp e redes sociais.
Mas em todo relacionamento íntimo há desafios; com o celular não é diferente! Até onde esse dispositivo que conecta ao mundo, aproxima as pessoas e proporciona momentos de emoção, alegria e distração é cúmplice ou vilão?